quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Literatura pelo mundo - Inglaterra (parte I)


Idade Média
Devido ao fato de a herança galesa e romana ter sido quase totalmente apagada por invasões das populações da baixa Alemanha e Escandinávia, é somente no início da Idade Média que aparecem as primeiras palavras em inglês, escritas em dialeto Anglo- Saxônico agora conhecido como inglês antigo (Old english; o texto sobrevivente mais antigo "Caedmon's Hymn" de Caedmon). A tradição oral era muito forte nos primórdios da cultura inglesa e a maioria dos trabalhos literários foram escritos para serem representados. Os poemas épicos eram assim muito populares e muitos, incluindo Beowulf, sobreviveram até aos dias de hoje entre as obras que constituem a literatura em língua inglesa antiga.

Existia um idioma que lembrava aproximadamente o norueguês atual ou, melhor ainda, o islandês, embora muito do verso anglo-saxão nos manuscritos existentes é provavelmente uma "suave" adaptação dos primeiros poemas de guerra Viking e Alemães originados do continente. Quando tais poemas foram trazidos para Inglaterra eles começaram a ser transmitidos oralmente de uma geração para outra, e a constante presença de versos aliterativos, ou ritmo constante (atualmente manchetes de jornal e propagandas usam abundantemente estas técnicas, tais como Maior é Melhor) ajudava o povo anglo-saxão a lembrá-los melhor. Tal ritmo é uma característica do idioma alemão e é oposto ao línguas românicas vocálico e sem ritmo. Mas os primeiros escritos datam dos primeiros monastérios cristãos fundados por Santo Agostinho da Cantuária e seus discípulos e é razoável acreditar que estes foram de alguma forma adaptados de leituras cristãs. Mesmo sem suas linhas grosseiras, os poemas de guerra Viking ainda tem cheiro de sangue feudal e suas rimas consonantes soam como encontros de espadas sobre o triste céu do norte: há ainda um senso de perigo iminente em suas narrativas. Em pouco tempo, todas as coisas devem chegar a um fim, como Beowulf evetualmente morre nas mãos de um gigantesco monstro o qual ele passa sua vida combatendo. Os sentimentos de Beowulf de que nada continua, a juventude e alegria irão se tornar morte e dor e penetraram no Cristianismo que irá dominar a futura paisagem da ficção inglesa. O tema dos tempos-dourados (ubi sunt) é, por exemplo, recorrente em Hamlet ("Alas, poor Yorick" traduzindo Ai de mim, pobre Yorick), para não mencionar a poesia Jacobeana. Com exceção da relativa levemente amorosa e otimista Restauração e a era Augustiniana, a melancolia e a angústia permanecem como tema favorito dos escritores de língua inglesa, embora o romance gótico e o pré-romantismo marcaram o nascimento da sensibilidade romântica moderna. 

Quando William o conquistador transformou a Inglaterra em uma parte da Anglo-Normandia no seu reinado em 1066 trouxe o normando, a Velha poesia inglesa continuou a ser lida nesta linguagem largamente falada. Foi somente no início do século 13 quando Albion tornou-se independente e cortou suas relações com a França que a linguagem realmente mudou. Como os Normandos foram assimilados pela cultura principal, seu francês penetrou nas classe mais baixa da sociedade mudando a gramática e o léxico do inglês antigo. Embora ele não tenha se tornado uma língua normanda, o inglês de Chaucer é muito mais próximo ao inglês dos dias atuais do que a linguagem falada no século anterior. O interlocutor de médio do inglês não pode ler Chaucer (inglês médio) sem dificuldade mas pode captar a essência da história, enquanto ele necessita ler Beowulf no inglês moderno.

Na alta Idade Média (1200-1500), os ideais de amor cavalheiresco entraram na Inglaterra e os autores começaram a escrever romances, seja em prosa ou verso. Tornaram-se especialmente populares os contos sobre rei Artur e sua corte. O poema Sir Gawain and the Green Knight (que numa tradução literal seria Sir Gawain e o Cavaleiro Verde) mostram muitas das feições chaves da literatura deste tempo: como paisagem o legendário reino do rei Artur, uma ênfase no comportamento cavalheiresco e nobre, e um colorido religioso.

O drama inglês era evidentemente religioso. Peças misteriosas eram encenadas nas cidades e vilarejos para celebrar as principais festas, e menos formais peças mascaradas também conduziam temas Natalinos. O primeiro autor Inglês, Geoffrey Chaucer (1340 -1400), escreve em inglês médio, ou seja, um inglês com influências de línguas normandas e do latim. Seu mais famoso trabalho é The Canterbury Tales (Os Contos da Cantuária), uma coleção de histórias em uma variedade de gêneros, contada por um grupo de peregrinos a caminho da Cantuária. Consideravelmente, são de todos os estilos de vida, o que reflete muito da cultura inglesa da época e da linguagem que se usava. Mas, embora Chaucer seja certamente um autor inglês, ele foi inspirado por desenvolvimentos literários que tiveram lugar em outros pontos da Europa, especialmente na Itália. The Canterbury Tales de Chaucer é bastante influenciado pelo Decamerão de Giovanni Bocaccio. A Renascença tinha feito sua aparição na Inglaterra.

Literatura elisabetana
A era elisabetana viu um grande florescimento da literatura, especialmente no campo do drama. A Renascença italiana tinha redescoberto o antigo teatro grego e romano, e isso foi fundamental no desenvolvimento do novo drama, que estava então começando a distanciar-se das velhas peças de mistério e milagres da Idade Média. Os italianos foram particularmente inspirados por Sêneca (um grande autor de tragédias e filósofo, o tutor de Nero) e Plauto (seus clichês cômicos, especialmente daqueles soldados garbosos tiveram uma poderosa influência na Renascença e depois). Contudo, as tragédias italianas adotaram um princípio contrário à ética de Sêneca: mostrando sangue e violência no palco. Nas peças de Sêneca tais cenas eram somente representadas por cartazes. Mas os dramaturgos ingleses estavam fascinados pelo modelo italiano: uma representativa comunidade de atores italianos estava morando Londres e Giovanni Florio tinha trazido muito da cultura e linguagem italiana para Inglaterra. É também verdade que a Era Elisabetana foi uma época muito violenta e que a grande incidência de assassinatos políticos na Renascença italiana (expressos pelas idéias de Nicolau Maquiavel em o O Príncipe) não permitiu acalmar temores de conspirações. Como um resultado disto, representações que continham este tipo de violência nesta época eram provavelmente mais catalíticas para o espectador elisabetano. Acompanhando as primeiras peças elisabetanas tais como Sackville & Norton de Gorboduc e The Spanish Tragedy por Kyd, a qual forneceu muito material para Hamlet, William Shakespeare destaca-se neste período como poeta e dramaturgo, e ainda não foi superado. Shakespeare não era um homem de letras por profissão, e provavelmente tinha somente alguma educação gramatical escolar. Ele não era nem um advogado, nem um aristocrata como os “talentos universais” que estavam monopolizando o palco inglês quando ele começou a escrever. Mas era muito talentoso e incrivelmente versátil, e ultrapassou "profissionais" como Greene, que ridicularizava este "shake-scene" de origens humildes. Embora a maioria dos dramas fossem recebidos com grande sucesso, em seus últimos anos (marcados pelo início do reinado de James I) que ele escreveu aquelas que viriam a ser consideradas suas grandes peças: Hamlet, King Lear, Macbeth, All's well that ends well, Anthony and Cleopatra. Para listar os trabalhos que pertencem ao período tardio, devemos adicionar The Tempest, uma tragicomédia que inscreve dentro do drama principal uma brilhante demonstração para o novo rei. Esta 'peça dentro de uma peça' toma forma de um masque, um interlúdio com música e dança, colorido por efeitos especiais em novos teatros internos. Críticos mostraram que na peça principal, a qual pode ser considerada um trabalho dramático por si só, foi escrita para a corte de James, se não foi para o próprio monarca. A arte mágica de Prospero, na qual depende o desfecho do enredo, sugere a bela relação entre arte e natureza na poesia. De forma significativa por estes tempos (a chegada dos primeiros colonos na America), The Tempest é (embora não aparentemente) ambientada nas Ilhas Bermudas, como as pesquisas em ‘‘Bemuda Pamphlets’’ (1609) têm mostrado, ligando Shakespeare à Virginia Company itself.

Os sonetos foram introduzidos na Inglaterra po Thomas Wyatt no início do século 16. Os poemas pretendiam ser transformados em músicas, tais como os de Thomas Campion, que se tornaram populares quando a literatura impressa foi disseminada mais abertamente nas casas. Outras figuras importantes no teatro elisabetano incluem Christopher Marlowe, Thomas Dekker, John Fletcher e Francis Beaumont. Se Marlowe (1564-1593) não tivesse sido esfaqueado numa taverna aos vinte e nove anos, segundo Anthony Burgess, ele poderia ter rivalizado, se não igualado o próprio Shakespeare em seus dons poéticos. Notavelmente, ele nasceu apenas algumas semanas antes dele e deve tê-lo conhecido bem. O assunto principal de Marlowe, contudo era diferente: focava-se mais no homem da renascença do que em qualquer outra coisa. Marlowe era fascinado e estarrecido pelas fronteiras da nova e moderna ciência. Drawing on German lore, ele apresentou Dr. Fausto a Inglaterra, um cientista e mago que é obcecado pela sede de conhecimento e pelo desejo de empurrar o poder tecnológico humano aos seus limites. Ele adquire poderes sobrenaturais que o permitem até voltar no tempo e casar-se com Helena de Tróia, mas ao fim do seu pacto de 24 anos com o diabo é obrigado a render sua alma a ele. Seus heróis sombrios devem ter um pouco do próprio Marlowe, cuja data de morte ainda é um mistério. Ele era conhecido por ser ateu, levar uma vida desregrada, ter várias mulheres, consorting with ruffians: viver a "alta sociedade" do submundo de Londres. Mas muitos suspeitam que isso pode ter sido um disfarce para suas atividade como agente secreto para a rainha Elizabeth I, sugerindo que o "esfaqueamento acidental" pode ter sido um assassinato premeditado a mando dos inimigos da Coroa. Beaumont e Fletcher são menos conhecidos, mas é quase certo que eles ajudaram Shakespeare a escrever seus melhores dramas e também eram bastante famosos na época. É também nessa época que o gênero de comédia urbana se desenvolve. No fim do século 16, a poesia inglesa era caracterizada pela elaboração da linguagem e extensiva alusão a mitos clássicos. Os mais importantes poetas dessa época incluem Edmund Spenser e Sir Philip Sidney.

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